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Texto CB2A1AAA
Se os historiadores produzem o passado e é o passado que faz uma nação, os historiadores do patrimônio fazem política, inventando o patrimônio nacional, atribuindo valor e significados a bens e práticas culturais que circunscrevem os limites da nação.
Sabemos bem que o trabalho do historiador, ao fabricar um patrimônio no seu próprio ofício da escrita da história, está integrado a um projeto de nacionalização, de construção do Estado e, portanto, de poder.
Certa produção historiográfica e sociológica, em debate pelo menos desde os anos 70 do século passado e já clássica na atualidade, trouxe novos ingredientes para a reflexão sobre essa ambiguidade do papel do historiador e do intelectual de um modo geral. Essa literatura aponta os numerosos constrangimentos a que estavam submetidos, na sua produção intelectual, em função de um processo de formação, enquadramento e disciplinarização que delineava um lugar de fala, limitado por regras de diversas naturezas. Dentre elas, podem ser destacadas as de financiamento de estudos, postos a julgamentos sobre suas finalidades e objetivos por comissões de alto nível, bem como as regras que regem a oferta de trabalho. O perfil e a política das instituições em que estão inseridos, entre outros aspectos, impõem a agenda dos estudos do momento.
Alguns desses autores, em confronto com interpretações totalizantes acerca dos fenômenos sociais, verificavam, também, que, diante de estratégias de dominação — identificadas em microescalas e em diferentes tipos e níveis de relações —, havia a possibilidade de pequenas subversões ou da adoção de sutis táticas de resistência; noutra vertente, pode-se falar nas brechas que se verificam em todo sistema e que arejam e alimentam esperanças de transformação.
Ainda que circunscritas a determinados limites, essas ações de resistência, aparentemente insignificantes, colocam em movimento as relações e podem alterar a realidade de uma ordem imposta ou dominante, em um jogo vivido cotidiana e mais ou menos silenciosamente.
É evidente, nessa perspectiva, que, diante do exercício de violência simbólica ao qual somos submetidos, na qualidade de sujeitos históricos, verificam-se nossas capacidades inventivas nos limites de possibilidades de ação de que dispomos. Essa estranha “margem de manobra”, ou, em melhores palavras, essa interseção entre um profundo pessimismo e a utopia de se construir um mundo melhor, é que mobiliza os homens para a ação.
Márcia Chuva. História e patrimônio. In: Revista do patrimônio histórico e artístico nacional, n.º 34, 2012, p. 11 (com adaptações).
A respeito dos aspectos linguísticos e textuais do texto CB2A1AAA, julgue o item que se segue.
Seria mantida a correção gramatical do último período do texto caso o trecho “é que” fosse suprimido.