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Atenção: A questão refere-se ao texto que segue.

 

Celebridades

 

O desejo de alguém ser reconhecido publicamente vem de longe. É da natureza humana aspirar à maior visibilidade possível: quantos não desejam atrair para si a plenitude da atenção e do olhar alheios? Seja pela ambição de um posto de liderança, seja pelo desejo mais singelo de ser estimado pelo outro, o ser humano faz o que pode para dar ênfase à própria pessoa. A História tem mostrado que são variadas as formas de promoção frequentadas pelas criaturas, bem como são variados os contextos e os valores culturais implicados nessa operação. Mas não há dúvida de que a multiplicação intensiva dos canais e suportes de comunicação, potencializada em nossa era digital, só fará crescer a obsessão pelo reconhecimento de si, a busca da fama e da notoriedade, a ânsia pela celebração da pessoa que se é.

 

Num romance famoso de Machado de Assis, um pai diz a seu filho: “Teme a obscuridade!” E num conto do mesmo autor, outro pai diz a seu filho: “o meu desejo é que te faças grande e ilustre”. Estava na cabeça do escritor, ainda que temperada com fina ironia, a convicção de que é preciso encontrar neste mundo os meios de projeção social da pessoa. Tal projeção depende não apenas de algum talento do interessado, mas sobretudo da aprovação desse talento por toda uma comunidade. Para se tornar celebridade, há que haver, por suposto, os muitos que a celebrem.

 

Há casos inúmeros – talvez constituam a maioria – de celebridades vazias, criadas artificialmente por mecanismos de propaganda e interesses comerciais. Projetam-se nas telas da TV e nas capas ou manchetes de revistas e jornais figuras cuja opinião é buscada a respeito de tudo, como se fossem autoridades definitivas em todos os assuntos. O que dizem e fazem as celebridades acaba por tornar-se modelo de avaliação e de comportamento. O perigo está nessa propagação de juízos apressados, nessa fabricação de talentos ilusórios. Um antídoto possível para evitar a propagação do senso comum vendido como juízo crítico está em ponderarmos, caso a caso, que razões efetivas existem para que alguém seja considerado uma celebridade. O ideal seria que a cada celebração correspondesse uma razão justa, um mérito indiscutível, uma contribuição real para a sustentação dos ideais coletivos de sociabilidade.

 

(Horácio Freitas Lima, inédito)

 

São segmentos de sentido oposto, que sustentam critérios contrários de argumentação:



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