Entre as principais competências demandadas para a formação dos cidadãos deste século, figuram criatividade e inovação, comunicação e colaboração, ética e cidadania digital. Talvez, entre todas elas, a capacidade de colaboração e a clara consciência de que essa atitude compõe um grande painel de ações coletivas são decisivas para o equilíbrio de tudo.
Há um grande arcabouço filosófico embasando uma mudança de atitude geral, um repensar do conceito de desenvolvimento coletivo, que impacta e envolve profundamente cada um de nós. Novos modelos de cidade e cidadania, novos conceitos de lazer e mobilidade, novos regimes de trabalho estão rapidamente tornando-se reais e efetivos.
Estamos no meio de uma transformação tecnológica e econômica que nos permite renegociar os termos da liberdade individual, do discurso cultural, da participação política e da justiça social na sociedade da informação. A Internet está tornando possível o amadurecimento de novas formas cooperativas de produção de informação, conhecimento e cultura em oposição aos mecanismos habituais de propriedade, hierarquia e mercados. Em particular, está permitindo que indivíduos, agindo isoladamente e em associações flexíveis com seus pares, tornem-se produtores de seu próprio ambiente informacional e cultural.
Isso representa uma ruptura dramática da tendência dos últimos 150 anos voltada para a comercialização e concentração do sistema de produção de informação e cultura. Esse momento de transição nas condições materiais dessa produção nos oferece uma oportunidade para a reestruturação daquele sistema de forma a ampliar a liberdade individual, possibilitar maior diversidade cultural, aperfeiçoar o discurso político e melhorar alguns aspectos da injustiça econômica, em particular no que concerne às desigualdades globais de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, a transição nos permite elevar a produtividade na economia da informação.
Mas a cornucópia das mudanças desejadas ameaça várias forças econômicas e culturais arraigadas da economia da indústria da informação do século 20. Hollywood, as redes de difusão televisiva e radiofônica e a indústria fonográfica se sentem ameaçadas pelo surgimento da produção cultural e de informação não proprietária e à margem dos mercados. Fornecedores de software proprietário estão ameaçados pelo aparecimento do software livre. As empresas de telefonia, de fibra ótica e de telefonia celular estão ameaçadas pelas alternativas não proprietárias a seus sistemas, como redes sem fio ou redes de fibras municipais que atingem as residências.
Em casos judiciais, nos procedimentos regulatórios e na legislação, assistimos hoje a uma campanha lançada sobre a ecologia institucional dos ambientes digitais. A questão nessas batalhas é se os ambientes digitais permitirão o florescimento da produção cooperativa entre pares, não proprietária e à margem dos mercados, trazendo com ela uma série de aprimoramentos bem definidos na liberdade e distribuição de justiça, ou se serão moldados para servir às necessidades dos modelos de negócio com base no fornecimento – por proprietários – de produtos acabados a consumidores passivos. Assim como ocorreu nos casos de impressão, rádio e telefone, as escolhas institucionais que fizermos durante este período formativo inicial provavelmente determinarão a resposta a essas questões para as próximas décadas.
Moisés Zylbersztajn. Muito além do maker: esforços contemporâneos de produção de novos e efetivos espaços educativos. In: Clarissa Stefani Teixeira,
Ana Cristina da Silva Tavares Ehlers e Marcio Vieira de Souza (orgs.). Educação fora da caixa: tendência para a educação no século XXI. Florianópolis-SC:
Bukess, 2015, p. 194-6 (com adaptações).