No início do mês, uma decisão do técnico Jürgen Klopp, do Liverpool, causou espanto entre os torcedores de seu time. De maneira inesperada, ele poupou nove atletas titulares em uma partida decisiva do Campeonato Inglês. Técnicos costumam resguardar seus atletas para embates mais desafiadores. A novidade é que o comandante do Liverpool fez a escolha com a ajuda da tecnologia. Cada vez mais, os clubes dos principais centros futebolísticos do mundo usam recursos da inteligência artificial, softwares e algoritmos avançados para definir toda a estratégia do jogo – inclusive quem deverá entrar em campo ou não.
O Liverpool é parceiro da Zone7, empresa de inteligência artificial que está encarregada de produzir relatórios sobre os riscos de lesões. Um algoritmo levanta dados como o número de partidas, carga de treinos, distâncias percorridas, qualidade do sono, entre outros, e cruza as informações com os registros de outros times para estabelecer padrões. O resultado foi a redução de mais de um terço de ocupação do departamento médico do clube. A Zone7 diz conseguir detectar até 70% das lesões prováveis com uma semana de antecedência e salienta que a baixa carga de atividades dos reservas pode ser tão prejudicial quanto o excesso.
A tecnologia, para além de arrumar os times nos gramados, é usada também para a captação de talentos. Esqueça, portanto, os velhos olheiros e espiões. Se um técnico quiser um lateral de 1,80 metro, entre 25 e 30 anos, com acerto de passes acima de 80%, basta um clique e uma lista de opções aparecerá na tela. Uma empresa franco-brasileira vem ganhando espaço no mercado. Trata-se da Mooh!Tech, que lançou recentemente a Chronus Sport, um aplicativo que produz relatórios com os mais variados atributos dos atletas. “Os algoritmos estão cada vez mais refinados”, diz Everton Cruz, CEO da Mooh!Tech. “Um atacante que finaliza bem, mas não ajuda na marcação, terá essa deficiência facilmente detectada.” Cada detalhe conta. “A aceitação é cada vez maior, especialmente por parte dos técnicos jovens”, diz Bruno Costa, professor de treinadores da CBF Academy. “Quem não usar a tecnologia ficará para trás.” Há um lado negativo: a imprevisibilidade do futebol, que o faz tão mágico, pode estar com os dias contados. Mas não há como fugir da ciência que faz a civilização avançar, em todos os setores.
(Luiz Felipe Castro. Substituição: sai o olheiro no futebol, entra a inteligência artificial. Revista Veja, 29.05.2022. Adaptado)