O que mais a impressionou no passeio foi a miséria geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, abatido da gente pobre. Educada na cidade, ela tinha dos roceiros ideia de que eram felizes, saudáveis e alegres. Havendo tanto barro, tanta água, por que as casas não eram de tijolos e não tinham telhas? Era sempre aquele sapé sinistro /.../. Por que ao redor dessas casas não havia culturas, uma horta, um pomar? Não seria tão fácil, trabalho de horas? /.../ Mesmo nas fazendas, o espetáculo não era mais animador. Todas soturnas, baixas, quase sem o pomar olente e a horta suculenta. /.../ E todas essas questões desafiavam a sua curiosidade, o seu desejo de saber, e também a sua piedade e simpatia por aqueles párias, maltrapilhos, mal alojados, talvez com fome, sorumbáticos!...
/.../ aproveitou a ocasião para interrogar a respeito o tagarela Felizardo.
Olga encontrou o camarada cá embaixo, cortando a machado as madeiras mais grossas; /.../ Ela lhe falou.
– Bons dias, sá dona.
– Então trabalha-se muito, Felizardo?
– O que se pode.
/.../
– É grande o sítio de você?
– Tem alguma terra, sim senhora, sá dona.
– Você por que não planta para você?
– Quá, sá dona! O que é que a gente come?
– O que plantar ou aquilo que a plantação der em dinheiro.
– Sá dona tá pensando uma coisa e a coisa é outra. Enquanto planta cresce, e então? Quá, sá dona, não é assim.
/.../
– Terra não é nossa... E frumiga?... Nós não tem ferramenta... isso é bom pra italiano ou alamão, que governo dá tudo... governo não gosta de nós...
(BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: O Estado de São Paulo / Klick Editora, 1997, p. 97-98.)