Duas profecias
[...] Pais e professores deviam encorajar os jovens a ler esses dois livros [o Manifesto Comunista e o Novo Testamento]. O jovem será moralmente melhor por tê-los lido.
Devemos educar nossos filhos para que considerem insuportável o fato de nós, leitores do Frankfurter Allgemeine Zeitung,* sentados atrás de mesas e computadores, ganharmos dez vezes mais do que aqueles que sujam suas mãos limpando lavabos e cem vezes mais do que aqueles que fabricam nossos computadores do Terceiro Mundo. Devemos nos certificar de que eles tenham consciência de que os países pioneiros na industrialização possuem uma riqueza cem vezes maior do que aqueles que ainda não se industrializaram. Os nossos filhos têm de aprender, desde cedo, a enxergar as desigualdades de suas fortunas e aquelas de outras crianças não como a “vontade de Deus”, nem como “o preço necessário da eficiência econômica”, mas como uma tragédia evitável. Eles devem começar a pensar, o mais cedo possível, sobre como modificar o mundo, de modo a fazer com que ninguém passe fome enquanto outros se empanturram.
As crianças precisam ler a mensagem de fraternidade humana de Cristo em conjunto com o relato de Marx e Engels sobre como o capitalismo industrial e o mercado livre – indispensáveis como são hoje – tornaram muito difícil instituir essa fraternidade. Elas precisam ver suas vidas como esforços no sentido de realizar a nossa potencialidade moral, inerente à nossa capacidade de comunicar as nossas necessidades e esperanças. Elas devem ouvir histórias sobre as congregações cristãs que se reuniam nas catacumbas e sobre os comícios operários nas praças de metrópoles. De fato, ambos cumpriram papéis igualmente importantes no longo processo de realização dessas potencialidades.
*Frankfurter Allgemeine Zeitung é o nome de um jornal alemão, cujos leitores têm um perfil semelhante aos da Folha de S. Paulo.