Enunciados de questões e informações de concursos

LAR AMARGO

 

Empregada doméstica, Val trabalha numa casa paulistana de classe média há dez anos e escuta repetidas vezes que é praticamente da família. Dorme num quartinho quente e abafado nos fundos da casa, perto da cozinha, onde passa boa parte de seu tempo. Adora seus patrões e cuida do filho deles como se fosse seu. No entanto, sua filha biológica, Jéssica, foi criada pela irmã em Recife, com a ajuda financeira que Val lhe enviava todos os meses. Quando Jéssica vai a São Paulo para prestar vestibular e fica hospedada com Val (ou seja, na casa dos patrões), questiona a subserviência da mãe – que mora na casa dos patrões, mas não come na mesma mesa que eles e nunca colocou os pés na piscina da residência. [...] Essa é a história de Que horas ela volta?, longa brasileiro que fez sucesso nos cinemas do país. Val (interpretada por Regina Casé) não é negra, mas lida com um cotidiano que mistura afeto e poder por parte dos patrões – tal como Gilberto Freyre relatou no livro Casa-Grande & Senzala. “Nas coletivas de imprensa para o lançamento do filme, os jornalistas europeus queriam saber se a situação descrita era real ou fictícia”, conta a diretora, Anna Muylaert. “Quando dizia que era real, ficavam em choque.” Nem sempre percebemos, mas situações como a vivida por Val são resquícios da escravidão abolida há mais de 125 anos no Brasil e podem ser encontradas em muitos lugares – inclusive dentro de casa.

 

Contar com a ajuda de empregadas domésticas e diaristas é visto com naturalidade no Brasil. É assim também com a existência de casas e apartamento com quarto e banheiro de empregada e a distinção entre elevadores. [...] Quando isso é comparado com outras culturas que desconhecem esses hábitos, como a norte-americana e a europeia, essas peculiaridades sociais e arquitetônicas ganham um caráter segregacionista. “Fazer com que a doméstica fique disponível 24 horas por dia, uma vez que ela dorme em casa, e separar os espaços de convivência é imitar as relações escravistas”, afirma o sociólogo Emerson Ricardo Girardi, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), de São Paulo.

 

(Adaptado de: BORELLI, Bruna. Lar amargo. Revista Galileu. Nov. 2015)

 

A partir da leitura do texto, assinale a alternativa correta.



spinner
Ocorreu um erro na requisição, tente executar a operação novamente.