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TEXTO 1

 

Cautela com a laborlatria

 

O cartunista Bob Thaves desenhou em uma de suas instigantes tirinhas, que tem como personagens Frank & Ernest, os desleixados e eventualmente oportunistas representantes do “homem comum” do mundo contemporâneo urbano.

 

Nesse quadrinho, Ernest, preocupado, pergunta a Frank: “Nós somos vagabundos?”. Frank, resoluto, responde: “Não, nós não somos vagabundos. Vagabundo é quem não tem o que fazer; nós temos, só não o fazemos...”.

 

Essa visão colide frontalmente com um dos esteios de uma sociedade que, na história, acabou por fortalecer uma obsessão laboral que, às vezes, beira a histeria produtivista e o trabalho insano e incessante.

 

Desde as primevas fontes culturais da sociedade ocidental, a exemplo de vários dos escritos judaico-cristãos, há uma condenação cabal do ócio e do não envolvimento com a labuta incessante; em um dos livros da Bíblia, há uma advertência: “Lança-te no trabalho para que não fiques ocioso, pois a ociosidade ensina muitas coisas perniciosas”.

 

Já ouviu dizer que o ócio é a mãe do pecado? Ou que o demônio sempre arruma ofício para quem está com as mãos desocupadas? Ou, ainda, que cabeça vazia é oficina do diabo?

 

Essa não é uma perspectiva exclusiva do mundo religioso. Voltaire, um dos grandes pensadores iluministas e hóspede eventual da Bastilha do começo do século 18, por seus artigos contra governantes e clérigos, escreveu: “O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.

 

Ou, como registrou Anatole France: “O trabalho é bom para o homem. Distrai-o da própria vida, desvia-o da visão assustadora de si mesmo; impede-o de olhar esse outro que é ele e que lhe torna a solidão horrível. É um santo remédio para a ética e para a estética. O trabalho tem mais isso de excelente: distrai nossa vaidade, engana nossa falta de poder e faz-nos sentir a esperança de um bom acontecimento”.

 

Não é por acaso que Paul Lafargue, casado com Laura, filha de Karl Marx, e fundador do Partido Operário Francês, foi pouco compreendido na ironia contida em alguns de seus escritos. Em 1883, quando todo o movimento social reivindicava tenazmente o direito ao trabalho, isto é, o término de qualquer forma de desocupação, o genro de Marx publicou “Direito à Preguiça”, uma desnorteante e – só na aparência – paradoxal análise da alienação e da exploração humana no sistema capitalista.

 

Mário Sérgio Cortella. Folha de São Paulo, Equilíbrio, 1º. maio 2003. Adaptado.

   

No título do Texto 1 consta a palavra Laborlatria. Considerando a composição da palavra (labor+latria) e as ideias desenvolvidas no texto, podemos chegar à conclusão de que seu autor:

 

1) acoberta a opinião de que há uma condenação cabal do ócio e do não envolvimento com a labuta incessante.

2) censura a ideia, embora atualmente paradoxal, da alienação e da exploração humana promovida pelo sistema capitalista.

3) critica a obsessão pelo trabalho, a qual, comumente, aproxima-se da histeria produtivista e do trabalho contínuo e maníaco.

4) concorda com o ‘mundo religioso’ na defesa de que “O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.

5) reprova todos os movimentos sociais que, persistentemente, reivindicam o direito ao trabalho e o fim de toda forma de desocupação.

 

Estão corretas:



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