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Dá licença, dona Rachel, para eu contar o que sucedeu depois daquele dia em que Conceição viu o Vicente “sumir-se no nevoeiro dourado da noite, passando a galope, como um fantasma, por entre o vulto sombrio dos serrotes”. A senhora sabe que eles eram um do outro, desde o começo desta história de ir embora e de ficar. Pois bem. Vicente voltou no mesmo galope para o olhar de Conceição, já que pior do que a seca é a solidão, essa sede que mata a alma da gente.
Os dois se casaram, como tinha de ser, em tempo de chuva no Quixadá. E tiveram tantos filhos, seus e das secas, e tantos netos, e tantos descendentes que povoaram o sertão de bem-querer e de coragem.
Sim, foi vagaroso até que o “feijão grelasse, enramasse, florasse, que o milho abrisse as palmas, estendesse o pendão, bonecasse, e lentamente endurecesse o caroço; e que ainda por muitos meses a mandioca aprofundasse na terra as raízes negras...”. Foram cem anos, até que nascessem Marias e Josés, rainhas do doce e reis da palma, e outras Inácias, entre fé e semeadura. Foram cem anos até haver a sombra da mandala, a multiplicação do gado, a terra de tudo.
Ainda não tem água e há o lamento, mas aconteceu também de o sertanejo aprender a reinventar a lida e semear a felicidade. Essas são as gentes da Conceição e do Vicente — que não envergavam e permaneceram porque o sertão mesmo diz: “Não me deixes”.
É assim, dona Rachel, a história que o jornal conta neste quarto ano de “seca encarrilhada”, no dizer do povo. São outros quinze.
Internet: <https://especiais.opovo.com.br> (com adaptações).
A respeito dos sentidos e dos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item que se segue.
Nos trechos ‘Não me deixes’ e ‘seca encarrilhada’, as aspas foram empregadas com a mesma finalidade.