Enunciados de questões e informações de concursos
Texto para a questão
Uma dupla violência
Há dez anos, o jornal O Liberal, de Belém, no Pará, denunciava em um artigo que as gangues de rua tinham voltado a protagonizar cenas de violência que, se já não estivessem espelhando sua faceta selvagem nas mortes que estavam provocando, estabeleciam aquele tipo de situação em que cidadãos sentem-se nocauteados na própria capacidade de reagir contra a inação de autoridades a quem cabe, de fato e de direito, protegê-los.
Configurava-se, assim, uma dupla violência: uma é aquela que ceifa vidas, que mutila, que estropia, lesiona com gravidade pessoas inocentes, até mesmo no recesso de seus lares; a outra, tão brutal quanto a primeira, manifesta-se quando a sociedade sente-se imobilizada, sem meios para defender-se de forma eficaz e sem motivos para acreditar que estará a salvo de vândalos completamente entregues à delinquência que não poupa ninguém.
É chocante, para não dizer degradante, constatar que os moradores de uma passagem, não mais suportando os perigos, as arruaças e os enfrentamentos constantes entre gangues, tenham se manifestado com a desolação atroz de quem não sabia mais a quem recorrer, para que os problemas que enfrentavam fossem, se não solucionados, pelo menos atenuados.
A manifestação era constituída por pessoas humildes — homens, mulheres, crianças — que jamais estiveram e jamais estarão preocupadas em saber, conceitualmente, o que é cidadania. Almejavam, isto sim, vivê-la efetivamente, sem subterfúgios, sem atropelos, sem humilhações impostas por bandidos que vivem à solta, reunidos em grupos que há muito deixaram de pichar prédios públicos e particulares, passando mesmo a matar, roubar e extorquir na maioria das vezes os pobres.
O Liberal. Belém–PA, 9/7/1998 (com adaptações).
Com relação às ideias do texto, assinale a opção correta.