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O texto a seguir é referência para a questão.
O paradigma do asfalto
No português coloquial brasileiro, a palavra asfalto significa o contrário de favela. A favela começa onde termina o asfalto e vice-versa. Asfalto é, assim, sinônimo de cidade formal, cidade legal, sendo a favela, informal e ilegal, o seu oposto. Esta questão vai muito além da semântica e tem implicações profundas no modelo de desenvolvimento que estamos seguindo há séculos, sem maiores correções de rumo, apenas pisadas eventuais no freio ou no acelerador da economia. Usado pela primeira vez no Brasil pelo prefeito do Rio de Janeiro Francisco Pereira Passos na reforma do centro da cidade que demoliu 1200 casebres e construiu 300, o asfalto entrou no imaginário brasileiro da forma mais autoritária e excludente possível. De lá pra cá superamos o autoritarismo e lutamos bravamente contra a exclusão, mas o asfalto continua. (...)
Asfalto, cabe lembrar, é um subproduto do refino do petróleo. A borra do óleo cru (alcatrão) é misturada com um agregado miúdo (brita fina) para produzir uma massa flexível enquanto aquecida e razoavelmente resistente quando resfriada. E esta massa de borra de petróleo com brita cobre uma porção significativa das nossas cidades, chegando quase a 20% da superfície total. Junto com seu inseparável companheiro, o cimento, na forma de concreto (que, como o asfalto, também tem pedra na sua fórmula) ou de pisos em geral, 80% das áreas públicas das cidades brasileiras estão impermeabilizadas. O crítico de arte carioca Paulo Venâncio Filho cunhou uma frase que, no meu entender, resume tudo: o brasileiro só sabe se relacionar com a natureza tendo o cimento como mediador.
Os últimos 20% são áreas de canteiros em praças ou parques públicos, os únicos espaços em que a água que cai torrencialmente de novembro a março tem a chance de voltar à terra sem a intermediação da infraestrutura de escoamento, que é formada pelos acima citados asfalto e cimento. E as áreas privadas da cidade, que formam cerca de 75% da superfície total, não ficam nem um pouco atrás, cobertas por telhados em cima de edifícios ou pelo cimento que os rodeia. Em resumo, nossas cidades têm um índice de impermeabilidade altíssimo. Cada vez que você passar por uma rua alagada, logo depois de uma tempestade de verão, lembre-se disto, a água não tem para onde ir, pois a cidade está toda impermeabilizada.
As conversas sobre o tema sempre passam por aquilo que alguém deveria fazer. E esse alguém é sempre definido como o outro: o poder público, as autoridades, os da rua de cima. A expansão urbana desenfreada, a produção agrícola em larga escala: é importante perceber que a questão das enchentes urbanas passa tanto pelo poder público, pelas diretrizes de urbanização e gestão das águas, quanto por cada um de nós, em nossos pedacinhos de terra na cidade.
O manejo da água da chuva é público, mas a absorção residencial é um problema doméstico, privado. (...)
Para resolvermos parte do problema das enchentes urbanas, temos que entender que a questão da permeabilidade do solo é problema de todos; que precisamos promover uma mudança cultural: 1) na forma como o poder público trata o problema; 2) na forma como as pessoas se sentem envolvidas com ele.
(Disponível em: <http://revistaforum.com.br/blog/2012/06/o-paradigma-do-asfalto/>. Acesso em: 26 ago. 13).
Dado o período: “E as áreas privadas da cidade, que formam cerca de 75% da superfície total, não ficam nem um pouco atrás, cobertas por telhados em cima de edifícios ou pelo cimento que os rodeia”. Assinale a alternativa em que a alteração da ordem dos elementos e da pontuação NÃO gera prejuízo gramatical e do sentido básico.