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O chefe de polícia

 

Nos treze anos em que a corte portuguesa esteve no Brasil, o número de habitantes na cidade do Rio de Janeiro, que era de 60 000 em 1808, tinha dobrado em 1821, com o agravante de que metade da população era escrava. Pode-se imaginar o que essa proporção representou numa cidade que em 1808 não tinha espaço, estrutura nem serviços para receber os novos moradores.

 

A criminalidade atingiu índices altíssimos. Roubos e assassinatos aconteciam a todo momento. Gangues de arruaceiros percorriam as ruas e atacavam as pessoas a golpes de faca e estilete. Oficialmente proibidos, o jogo e a prostituição eram praticados à luz do dia.

 

A tarefa de colocar ordem no caos foi confiada por D. João VI ao advogado Paulo Fernandes Viana. Nascido no Rio de Janeiro e formado em Coimbra, foi nomeado intendente geral da polícia em 1808 e exerceu o cargo até a morte, em 1821. Entre outras muitas funções que o cargo exigia, estava sob sua responsabilidade policiar as ruas, expedir passaportes, vigiar os estrangeiros, fiscalizar as condições sanitárias dos depósitos de escravos. Munido de superpoderes, ele se metia em praticamente tudo: brigas de família e vizinhos, confusões envolvendo senhores e escravos, organização de festas e espetáculos públicos, o comportamento das pessoas dentro e fora de casa. Em um dos ofícios, por exemplo, ordenava a guarda militar reprimir “assobios, gritos, pateadas, e outros comportamentos e modos incivis que o povo pratica” durante os espetáculos de teatro.

 

Ele reclamava da falta de condições e de recursos para executar seu trabalho. Sua polícia contava com apenas 75 homens. Não era uma polícia ostensiva como atualmente. De acordo com o regulamento, deveria atuar em rondas dissimuladas, escondidas na escuridão dos becos e das ruas, à espreita dos malfeitores. Devido a essa forma sorrateira de atuação, os policiais de Viana receberam o apelido de morcegos.

 

Seus agentes eram truculentos e implacáveis. O mais famoso deles foi o major Vidigal que se tornou o terror da malandragem carioca: aparecia de repente nas rodas de capoeira ou nos batuques em que os escravos se confraternizavam bebendo cachaça. Sem se importar com qualquer procedimento legal, mandava que seus soldados prendessem e espancassem qualquer participante desse tipo de atividade – fosse delinqüente ou cidadão comum que estivesse se divertindo.

 

(Laurentino Gomes, in 1808, 2007. Adaptado)

 

Transpondo-se a frase – A tarefa de colocar ordem no caos foi confiada por D. João VI a Viana. – para a voz ativa, tem-se:



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