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Prefeitura Municipal de Ribeirão das Neves
Questão 1 de 1
Assunto: Sem classificação

Com base na interpretação do texto a seguir, responda à questão.

 

Persistência renitente da epidêmica

taxa de delitos

 

Em 1980 foram registrados pelo Datasus 13.910 assassinatos no Brasil (taxa de 11,7 para cada 100 mil habitantes). Em 1990 essa taxa já tinha dobrado: 22,2. Antes de 2012, o pico foi atingido em 2003: 28,9. Em 2012 alcançamos a maior taxa de todos os tempos: 29 assassinatos para cada 100 mil pessoas. O que acaba de ser dito em relação aos homicídios vale para, praticamente, todos os demais delitos. Vivemos num país de violência epidêmica (segundo os critérios da OMS-ONU). Quais as razões da persistência dessa violência?

 

Ana María Cerro e Ana Carolina Ortega Masagué, da Universidade Nacional de Tucumã (Argentina), mirando a realidade argentina (muito similar à nossa, posto que lá também tem sido uma constante o incremento exorbitante do delito) sublinham o seguinte: o que determina a persistência (ou mesmo o aumento) da taxa delitiva (segundo a literatura criminológica do mundo todo) são dois conjuntos de fatores: (a) os relacionados com a dissuasão (certeza do castigo ou império da lei) e (a) os relacionados com as variáveis macroeconômicas e sociais.

 

Para a aferição do primeiro (certeza do castigo), contam, desde logo, a probabilidade de ser descoberto, processado, condenado e, eventualmente, ser levado à prisão. O fundamental, portanto, é a certeza do império da lei. A política brasileira não segue este caminho (prova disso é que apenas 8% dos homicídios são devidamente descobertos e processados [...]. O caminho errado que tomamos é o de acreditar na mágica do aumento da pena (por meio de novas leis penais mais severas). Confiamos na severidade abstrata, quando o que conta é a certeza concreta do castigo. A primeira lei seca (2008) provou isso: quando o castigo se tornou certo (apreensão do veículo, multa forte etc.), muita gente deixou de dirigir logo após ter se alcoolizado. A certeza do castigo trouxe mudança de comportamento naqueles dias (somente naqueles dias). Pegamos o caminho errado (crença no aumento da pena) e nele estamos até hoje. Foram aprovadas (de 1940 até 2014) 155 reformas penais no Brasil. Nunca nenhum crime jamais sofreu diminuição. De outro lado, fazemos muito pouco em favor da certeza do castigo (efetividade da lei). Esse clamoroso erro da política, da mídia e da sociedade brasileiras constitui uma das explicações para a persistência do delito entre nós (que tende a se agravar nos próximos anos).

 

De outra parte, são as variáveis macroeconômicas e sociais que geram a atmosfera mais ou menos propensa ao cometimento de alguns crimes (os patrimoniais, por exemplo). Contam muito o nível de escolaridade do país, a renda per capita, o desfrute de uma sociedade de bem-estar social, segurança nas relações, firmeza das instituições, economia estável, emprego massivo etc. Especial importância possui, nesse campo, o nível de desigualdade entre as pessoas: quanto mais igualdade material, menos violência (isso é o que os países escandinavos e escandinavizados estão nos mostrando, com taxa de 1 assassinato para cada 100 mil pessoas, contra 29 do Brasil). Nosso país, também aqui, pegou o caminho errado (e está pagando caro por esse erro). Nós confiamos (nós significa sociedade, mídia e governantes) no encarceramento massivo aloprado, sobretudo de quem não praticou crime violento (75% dos encarcerados). Somos o 3º país do mundo em população carcerária (mais de 710 mil presos). De 1990 (90 mil presos) a 2014 (711 mil presos), o aumento prisional (ou seja: o aumento da escola do crime) foi de 800%.

 

[...]

 

Como afirmam as autoras citadas (Cerro e Ortega Masagué), todos os indivíduos possuem um capital humano que pode ser dirigido para atividades legais ou ilegais. As crianças e os adolescentes são capitais humanos (que vão ser úteis ou nefastos para a sociedade, conforme a energia que jogamos neles). O capital humano legal é conquistado com educação, saúde, ética, socialização, esportes, noção de limites, respeito às leis etc. De outro lado, de acordo com as teorias criminológicas, o capital humano ilegal é desenvolvido quando entregamos a criança ou o adolescente ao vício, à fuga escolar, à indolência, ao contato com o tráfico de entorpecentes...

 

As famílias, a sociedade, a mídia e os governantes decidem o que fazer com o capital humano disponível (na juventude). No Brasil, em razão da brutal desigualdade, levamos uma parte dele para a legalidade e outra para a ilegalidade. Se vivemos uma violência epidêmica é porque depreciamos o capital humano legal e energizamos o capital humano ilegal.

 

GOMES, Luiz Flávio. Persistência renitente da epidêmica taxa

de delitos. Instituto Avante Brasil. 11 jul. 2014. Disponível em:

<http://institutoavantebrasil.com.br/persistencia-renitente-da-

epidemica- taxa-de-delitos/>. Acesso em: 10 fev. 2014.

 

Assinale a alternativa em que a passagem entre parênteses traduz uma avaliação crítica do autor.



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