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Texto para o item.

 

No dia 30 de outubro de 1938, marcianos aterrissaram na cidade de Grover’s Mill, no estado norte-americano de Nova Jersey, e se espalharam, tentando ocupar os arredores; encontraram forte resistência dos terráqueos; o pânico foi generalizado em várias cidades.

 

A invasão, como é fácil imaginar, nunca existiu. O pânico coletivo, todavia, foi bem real, após a rede de rádio CBS (Columbia Broadcasting System) ter interrompido sua programação musical para noticiar em primeira mão que naves espaciais haviam desembarcado guerreiros alienígenas na costa leste dos Estados Unidos. Na verdade, era uma encenação radiofônica concebida e dirigida pelo então jovem e desconhecido Orson Welles, que adaptara um texto de ficção científica do inglês H. G. Wells.

 

Embora, ao início da transmissão, os ouvintes tivessem sido alertados de que se tratava de uma peça ficcional, não adiantou muito. Segundo cálculo da CBS, cerca de seis milhões de pessoas sintonizaram o programa. Uma parte relevante dessa assistência acreditou tratar-se de um fato real; houve sobrecarga nas linhas telefônicas, engarrafamentos nas ruas, pessoas tentavam fugir a todo custo do perigo marciano. No dia seguinte, um jornal resumiu tudo com a seguinte manchete: “Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos”. O caso tornou-se um marco na compreensão do poder dos meios de comunicação de massa e deixou à reflexão uma pergunta crucial: como milhões de pessoas puderam acreditar numa patacoada desse tipo?

 

Dois anos mais tarde, resenhando um livro que trazia o dossiê completo daquele evento, com a narrativa detalhada dos fatos, depoimentos e o texto transmitido, o escritor George Orwell se pôs tal pergunta. A conclusão a que ele chegou é tão instigante quanto terrível. Afora a abertura e o fechamento, a encenação na CBS foi inteiramente apresentada sob a forma de boletins noticiosos e mencionava como fontes de suas informações estações de rádio reais. Muitas pessoas aparentemente se deixaram enlear pela ficção graças à combinação de duas crenças: primeiro, a peça era um boletim de notícias; segundo, todo boletim de notícias pode ser considerado verídico.

 

A conclusão é que, por vezes, um enunciado se passa por “verdade” menos em razão de seu conteúdo do que pela forma de sua enunciação. Uma notícia qualquer provinda de uma rádio fidedigna, por exemplo, merece confiança simplesmente por ter a forma de uma notícia, isto é, faz as vezes de verdade porque está envolvida num figurino verossimilhante, seja o conteúdo verdadeiro, seja uma divertida ficção, seja enfim... uma mentira deslavada.

 

Homero Santiago. Cuidado com as notícias! In: Humanitas, ano 16, ed. 149, 2022, p. 82 (com adaptações).

 

Considerando as ideias e as propriedades linguísticas do texto apresentado, julgue o item a seguir.

 

Conforme destacado no texto, a forma verbal “haviam”, em “haviam desembarcado”, estabelece concordância com “naves espaciais”.



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