De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, em todo o mundo há mais de 1 bilhão de pessoas afetadas por transtornos psicológicos. Entre os principais, estão a depressão, o transtorno afetivo bipolar, a demência e a esquizofrenia. A organização aponta, ainda, que cerca de oitocentas mil pessoas por ano cometem suicídio.
O médico psiquiatra e psicoterapeuta Guilherme Spadini, professor de psicologia médica na Faculdade de Medicina da USP, explica que o uso da palavra “transtorno” é indicado para doenças que não têm um mecanismo fisiopatológico claro, como é o caso dos transtornos mentais.
Todas as pessoas podem, em algum momento da vida, desenvolver um transtorno psicológico. As causas de transtornos mentais não são completamente conhecidas: existem predisposições genéticas, mas deve-se considerar também a importância do fator psicossocial, como a interação com o meio, com a cultura e com as experiências do dia a dia. A exposição a diversos tipos de violência e a traumas, assim como a má qualidade de vida, sem momentos de lazer e com estresse contínuo, pode servir de propulsor para um quadro de distúrbio psíquico.
O preconceito em relação a pessoas que sofrem de transtornos mentais é conhecido como “psicofobia”, termo utilizado pela Associação Brasileira de Psiquiatra em campanhas de conscientização da população a respeito do estigma em relação à doença mental. Spadini destaca que foi criada, em torno dos pacientes psiquiátricos, uma “aura de imprevisibilidade, como se a pessoa fosse fraca e, por isso, capaz de ações imprevisíveis”. Segundo o médico, o principal motivo para o estigma é a falta de conhecimento: “Não saber traz esse estranhamento e as pessoas tendem a evitar o que não conhecem”. Assim, o principal antídoto contra a psicofobia é popularizar informações sobre os transtornos mentais.
Por vezes, o estigma tem origem na família. Pais costumam ter dificuldade de aceitar que um filho ou filha seja paciente psicológico. Spadini trabalha com jovens estudantes universitários e conta que é recorrente que eles queiram esconder o tratamento dos pais: “É uma má notícia para os pais, como se houvesse algo errado. É difícil lidar com o fato de que seu filho possa estar em sofrimento. Vivemos em uma época em que precisamos estar felizes o tempo todo e demonstrar essa felicidade. Não é fácil aceitar que a vida traz sofrimento e, para os pais, muitas vezes isso se traduz como culpa.” Amedrontadas pelo estigma, pessoas com transtornos mentais deixam de procurar a ajuda de que precisam.
O acompanhamento psicológico por meio da psicoterapia já é amplamente aceito e pode ser realizado sem diagnóstico de transtorno, apenas para melhorar a qualidade de vida do indivíduo. Entretanto, o tratamento psiquiátrico com medicamentos ainda é visto com preconceito. “Todos os médicos são consultados, sendo o psiquiatra o último”, diz o professor. O uso de medicamento é visto como um exagero, como indicativo de fraqueza do paciente ou necessidade de alienação da realidade. Segundo o psiquiatra, um tratamento com medicamentos não tem a função de cura ou de corrigir algo errado. O seu efeito é benéfico, diminui o sofrimento e aumenta a possibilidade de recuperação.
A combinação entre psicoterapia e medicação é o tratamento mais indicado para distúrbios psíquicos. Também é essencial desenvolver um estilo de vida saudável, com a prática regular de exercícios físicos, uma boa alimentação, sono reparador e relacionamentos satisfatórios.
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