Sou tia há exatos 12 anos. Leandro, meu primeiro sobrinho, chegou a este mundão em março de 2010. Hoje está um pré-adolescente. Menino carinhoso, educado, de sorriso tímido e igualmente bonito. O nascimento dele havia sido marcado para o final da tarde daquela quarta-feira. Por isso, organizei meu dia para chegar mais cedo ao estágio, dar conta das demandas com tranquilidade e ir embora no meu horário. Assim, daria tempo de ver nascer aquele bebezinho tão aguardado.
Eu já estava prestes a desligar meu computador quando uma demanda extra da chefia apareceu.
Lembro-me da sensação de medo que eu senti em dizer “infelizmente eu não vou conseguir cumprir, já passou do meu horário e tenho um compromisso — literalmente inadiável”.
Esbocei as palavras na minha mente, mas elas nunca encontraram o som da minha voz. O sim do medo me silenciou. E o receio de não parecer dedicada o bastante prevaleceu.
Fiquei. Fiz o melhor que pude, o mais rápido que pude, e então fui correndo para a maternidade, na esperança de chegar a tempo de ouvir o chorinho dele pela primeira vez. Mas não deu. Já era tarde.
Amarguei aquela negativa não dita por muito tempo. Talvez, no trabalho, a demanda pudesse ser tranquilamente resolvida na manhã seguinte, mas sequer tive coragem de negociar.
Dessa maneira eu me desrespeitei muitas e muitas vezes, nas mais variadas circunstâncias. Mas a vida não espera. Ao longo do tempo, ganhei maturidade (e mais sobrinhos: Joaquim, o sexto, chegará daqui a pouco!) e aprendi que impor limites é como dizer que a gente também importa. Falar “não” para o mundo às vezes é falar “sim” para você. Que tenhamos sempre coragem para sustentar esse sim!
Débora Zanelato. Um sim para você. In: Vida Simples, ano 20, ed. 241, 2022, p. 6 (com adaptações).