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Texto

 

Colunista de um pequeno jornal de bairro, ele já estava resignado a uma carreira modesta, sem muita repercussão, sem muitas glórias. Mas um dia teve uma surpresa: um amigo que encontrou na rua cumprimentou-o efusivamente por uma belíssima crônica que, assinada por ele, estava circulando na Internet, com o sugestivo título de “O texto misterioso”. A surpresa era mais que explicável: ele simplesmente nunca tinha escrito nada chamado “O texto misterioso”.


Mas o amigo mostrava-se tão entusiasmado que ele não teve coragem de desfazer aquela ilusão. Aceitou, pois, os cumprimentos e seguiu adiante. Na esquina, encontrou outro amigo que também o saudou pela crônica. E um terceiro, um quarto. Àquela altura já estava intrigadíssimo. Precisava ir ao jornal, mas, em vez disso, voltou para casa e entrou na Internet. Lá estava “O texto misterioso”. Ao lê-lo, teve um choque.


O texto era muito bom. E era um texto que ele poderia, sim, ter escrito, mas só num momento de inusitada inspiração, uma inspiração que há muito tempo o abandonara. Mas... Será que não tinha mesmo redigido aquele texto? Porque, ainda que remotamente, as palavras pareciam-lhe familiares. Davam-lhe uma sensação de déjà-vu, de coisa que tinha visto antes na tela de seu computador; seria possível aquilo?


Inquieto, tornou a sair, encontrou outros amigos, recebeu mais cumprimentos. O diretor do jornal para o qual escrevia foi muito efusivo, ainda que mostrasse certo ressentimento: para nós você não escreve tão bonito, disse, ressentido. Àquela altura a angústia se apossara dele. Quem, afinal, teria escrito “O texto misterioso”? Precisava encontrar essa pessoa, descobrir por que usara o nome dele. Mas nada é mais anônimo que um texto de Internet. Ele não sabia nem por onde iniciar a busca. Foi então que leu a notícia sobre a sonâmbula que, dormindo, enviara um texto a amigos. O que mais lhe chamou a atenção foi o comentário de especialistas segundo o qual a mulher poderia ter feito aquilo sob a ação de medicamentos. Ora, ele também estava tomando um medicamento, um novo sonífero; e a pergunta agora lhe ocorria, insistente: teria sido ele o autor do texto que deliciara tanta gente? Poderia ter o comprimido mobilizado a agora oculta vocação literária?


Essa é a dúvida que o atormenta e que é a causa de uma insônia resistente a qualquer sonífero. Insônia que só lhe aumenta o sofrimento. Teme que um novo texto apareça, com sua assinatura, algo ainda melhor que “O texto misterioso”, mas que definitivamente não terá sido escrito por ele. Isso liquidará suas últimas esperanças de transformar-se num gênio literário.


Moacyr Scliar. O texto misterioso. In: Folha de S.
Paulo. Cotidiano, mar./2009 (com adaptações).

 

Acerca dos aspectos gramaticais e dos sentidos do texto apresentado, julgue o item a seguir.

 

Conforme destaque, o verbo “estava” está no singular porque concorda com o termo “Lá”, que também está no singular.



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