Enunciados de questões e informações de concursos
Considere o texto a seguir:
Corria o ano de 2003. Estávamos em uma aula de Sociologia, do segundo ano da graduação. O professor explicava para nós, alunos inquietos e inseguros, sobre como elaborar um bom projeto de pesquisa para o “temível” Trabalho de Conclusão de Curso, o TCC, que deveria ser entregue entre final de 2005 e início de 2006. Alguns de nós expunham suas dúvidas sobre o que poderia ser pesquisado pelo ângulo das Ciências Sociais. Por volta da metade daquele debate, um dos alunos tomou coragem, embora ainda um tanto sem graça, e perguntou se era válido estudar as histórias em quadrinhos (HQs) de Conan, o Bárbaro, personagem criado pelo escritor americano de fantasia e aventura histórica Robert Ervin Howard (1906-1936).
A reação inicial foi de risos incontroláveis e conversas paralelas. O docente esperou pacientemente a balbúrdia findar e disse, com sua peculiar serenidade, que sim, estudar Conan era muito viável, e recomendou, fortemente, a empreitada, oferecendo alguns aspectos para a eventual análise.
Gosto muito de contar esse episódio. A razão é evidente: o caráter revelador da natureza das Ciências Sociais. Nada escapa, ou deve escapar, ao nosso olhar. Da música ao esporte, do cotidiano de uma empresa à literatura “culta” ou “comercial”, do cinema de “arte” ou “blockbusters” à culinária caseira ou da “alta gastronomia”. Tudo é capaz de nos ajudar a compreender a sociedade e sua multiplicidade de grupos, com suas lógicas, códigos, regras, simbologias. Afinal, como explicar o fenômeno do universo geek e nerd – um fenômeno social contemporâneo inquestionável – se tratarmos as HQs com o desdém de um “pesquisador sapiente”?
AURÉLIO, D. R. Múltiplos olhares sobre as HQs. Sociologia. Ano 5, ed. 55, nov./dez. 2014. São Paulo: Editora escala. p. 37-38. (fragmento adaptado)
No texto, o uso de aspas em “pesquisador sapiente” cumpre a função de