Crônica pra ninguém – Antonio Prata
Hoje é dia 30 de dezembro, tá todo mundo na praia ou acendendo a churrasqueira: esta crônica, portanto, não será lida por viv’alma. Salvo as viv’almas do Adams e da Bia — ele assina as belíssimas ilustrações […] e ela, entre outras funções mais nobres na Folha, sauva-me dod neus erros. (Opa, parece que hoje nem a Bia leu).
Talvez a piadinha metalinguística tenha ficado meio obscura, mas tudo bem: uma das vantagens de escrever uma crônica para ninguém é que a gente pode tomar certas liberdades. Outra que me ocorre: um parágrafo inteiro de &s para encher linguiça e terminar logo esta minha ária no chuveiro. Melhor, um parágrafo inteiro de “ohhhhh” para se assemelhar à ária no chuveiro.
Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhhhhh
O leitor (Adams, tô falando com você) pode achar que é triste escrever para ninguém. Prefiro encarar o desafio com otimismo. (Gostaria de poder falar o mesmo sobre 2019, mas o bom senso me impede). Pensando positivo: como fazer bom uso de palavras ao vento? Bem, por exemplo, fazendo revelações que não teria coragem caso houvesse mais gente ouvindo.
Detesto o sanduíche de mortadela do Mercadão. Acho Terra em Transe chatíssimo. Nunca li Proust. Às vezes, em banheiros muito infectos, abro a maçaneta com o pé. Maria, fui eu quem roubou a barra de chocolate ao leite com avelãs Lindt que você ganhou no Natal de 1984. Desculpa pelo roubo e desculpa demorar 35 anos para confessá-lo; juro que teria te contado antes se tivesse certeza que você não iria ouvir. Hoje eu tenho. Roubei seu chocolate. Roubei seu chocolate. […]
Tsc. Eu devia ter escrito tudo “&&&...” mesmo, Adams. Mas você ainda tem tempo: manda só um quadrado branco, sem nada desenhado. Vai te poupar trabalho, ornar com o ano novo e sujar menos as mãos do barrigudo em Jacareí. Feliz ano novo, parceiro! Tamo junto em 2019!
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