Enunciados de questões e informações de concursos

TEXTO I

Eu, Etiqueta

 

Carlos Drummond de Andrade

 

Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório, Um nome...estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido (...) Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cinto e escova e pente, Meu copo, minha xícara, Minha toalha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, Letras falantes, Gritos visuais, Ordens de uso, abuso, reincidências, Costume, hábito, premência, Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda Seja negar minha identidade, Trocá-la por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser Eu que antes era e me sabia Tão diverso dos outros, tão mim mesmo, Ser pensante sentinte e solidário (...) Agora sou anúncio Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente.) E nisto me comparo, tiro glória De minha anulação. Não sou – vê lá – anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago Para anunciar, para vender Em bares festas praias pérgulas piscinas, E bem à vista exibo esta etiqueta Global no corpo que desiste De ser veste e sandália de uma essência Tão viva, independente, (...) Sou gravado de forma universal, Saio da estamparia, não de casa, Da vitrine me tiram, recolocam, Objeto pulsante mas objeto Que se oferece como signo dos outros Objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente.

(Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/ficha TecnicaAula.html ?aula=52346. Acesso em 17/03/2021.)

 

 

TEXTO II

Consumismo: impactos para o bolso e para o planeta

Carlos Eduardo Costa

 

Há vários anos, a sociedade moderna tem sido rotulada como a sociedade do consumo. A grande questão, na verdade, é que temos assistido à consolidação de uma sociedade consumista. E esse é o grande problema.

 

Em uma sociedade de consumo, as pessoas adquirem produtos e serviços necessários para sua vida. Consumismo, ao contrário, é o ato de comprar produtos e serviços sem necessidade e consciência. É compulsivo e descontrolado. Não basta se vestir, é preciso acompanhar todas as tendências da moda. Não é suficiente o conforto proporcionado por alguns produtos tecnológicos, é necessário possuir os últimos lançamentos. Numa sociedade consumista, o consumidor é permanentemente incentivado a adquirir novos produtos.

 

E essa onda consumista traz graves consequências para a nossa sociedade. No plano individual, um grande número de pessoas se encontra em uma situação de endividamento extremo estimulado pelo desejo de consumo. (...).

 

Já no plano coletivo, é o nosso planeta que sofre com o consumismo. O meio ambiente é diretamente afetado, pois o consumo desenfreado e o desperdício, muitas vezes causado pela falta de conhecimento, requerem o uso de mais matérias-primas, e, consequentemente, também geram grande quantidade de resíduos. Por causa disso, os ambientalistas acreditam que o nosso planeta está gravemente doente, e alguns dos sintomas já são sentidos e estão piorando as condições de vida na Terra, como, por exemplo, o aquecimento global. (...)

 

(Disponível em: https://www.campograndenews.com.br/artigos /consumismo-impactos-para-o-bolso-e-para-o-planeta. Acesso em 13/03/2021)

 

TEXTO III

‘A única coisa que não pode ser comprada é o saber’, diz Nuccio Ordine

por Leonardo Cazes

 

RIO - Na abertura dos seus cursos na Universidade da Calábria, na Itália, o filósofo Nuccio Ordine sempre pergunta aos seus alunos: “por que vocês vieram para a universidade?”. A provocação de Ordine parte da sua constatação de que as instituições de ensino se tornaram meras fábricas que despejam jovens diplomados no mercado de trabalho, e não lugares aonde se vai para compreender o mundo e a si mesmo.

Contra uma visão utilitarista dos saberes, o filósofo escreveu o manifesto “A utilidade do inútil” (...), best-seller na Europa que chega agora ao Brasil.

 

Como convencer as pessoas da utilidade do que é considerado inútil?

É preciso olhar o mundo em que vivemos, onde a lógica do dinheiro domina tudo. A única coisa que não pode ser comprada é o saber. Não é possível se tornar um homem culto com um cheque em branco. Criamos um mundo onde as pessoas pensam apenas no seu próprio egoísmo. Perdeu-se de vista o sentido da solidariedade humana. Um mundo que nos obriga a viver na dor é um mundo possível? Eu não acredito. Os saberes, como a música, a literatura, a filosofia, a arte, nos ensinam a importância da gratuidade. Devemos fazer coisas que não buscam o lucro. A dignidade humana não é a conta que temos no banco. A dignidade humana é a nossa capacidade de abraçar os grandes valores, a solidariedade, o amor pela justiça, o bem-estar. Como convencer as pessoas disso? Meu argumento é que estamos numa rota autodestrutiva.

 

No livro, o senhor mostra que a discussão sobre o utilitarismo e o poder do dinheiro existe há séculos. O que há de diferente hoje?

Desde o período clássico, vários autores refletiram sobre o perigo do dinheiro. Mas, hoje, nós temos uma radicalização na busca pelo lucro que se tornou uma forma de autodestruição do próprio capitalismo. É a ânsia de ganhar mais e mais que vai destruir o capitalismo.

 

(O Globo, Segundo Caderno, p. 06 – 27/02/2016.)

 

TEXTO IV

Considerando que todos os textos apresentados nesta prova abordam a temática do consumo e/ou do consumismo, analise as afirmações a seguir, julgando cada uma delas como V (verdadeira) ou F (falsa). A seguir, assinale a sequência correta.

 

( ) Nos quatro textos, há uma visão crítica sobre o comportamento humano em sua relação com o consumo.

 

( ) A relação do tema do excesso de consumo com o aspecto ecológico é uma abordagem que aparece apenas no texto II.

 

( ) Em todos os textos percebe-se a preocupação histórica com o tema, ou seja, o fato de demonstrar que o problema do consumismo vem se agravando com o tempo.

 

( ) O texto III propõe um outro tipo de consumo diferente do convencional: um “consumo” de saberes e valores, em vez de bens materiais.




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