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Texto 03 - Sherazade

 

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Possuidora de uma beleza incomum, não foi por sua juventude nem pela harmonia de suas formas que seduziu o tirano, mas pela fascinante destreza para triunfar sobre o esquecimento e remover os sedimentos da memória, o que levaria seus sucessores, ao resgatarem suas histórias em caracteres poliglotas, a declarar que escrever é recordar. Para esse fim suas palavras vertiam em manuscritos, para fixar as folhas de um embelezamento que começava a se apagar na voz de rapsodos ou repetidores que recontavam lendas, epopeias e mitos ao modo dos roteiros homéricos.

 

Dominava a entonação, as cadências e as vastas e complicadas metáforas que costumam enfeitiçar os amantes das histórias fantásticas. Sua voz era um fio entre o mistério da invenção e as habilidades praticadas pelos rawis1 nos bazares, nas cafeterias e nos salões em que os homens do leste islâmico gastavam suas tardes cultivando, do paladar ao ouvido, o deleite de seus sentidos, quando o islã era sinônimo de beleza e de prazer.

 

Real ou fictícia, deusa ou heroína noturna que triunfa sobre o poder e sobre a morte, Sherazade é a voz fundadora da literatura e o santuário, para todos os tempos, da arte da palavra.

 

1. Na tradição árabe, o contador de histórias que se apresenta nos bazares e casbás é chamado rawi (aquele que acalma a sede). [N. de T]

 

Fonte: ROBLES Martha. Mulheres, mitos e deusas: o feminino

através dos tempos. São Paulo: Aleph. 2019, p. 204.

 

Na composição do enunciado "Sherazade é a voz fundadora da literatura e o santuário, para todos os tempos, da arte da palavra." a autora



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