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Superintendência da Zona Franca de Manaus
Questão 1 de 1
Assunto: Sujeito

No norte da Índia, o pior lugar para se nascer mulher

 

Amelia Gentleman
Em Machrihwa, na Índia

 

O nascimento de um menino é comemorado em Machrihwa com a compra de doces, que são distribuídos com grande alegria entre os moradores da vila. Já o nascimento de uma menina, na maioria dos casos, não é comemorado.

 

As mulheres nesta vila não gostam de falar sobre o assunto, mas muitas daquelas que têm filhas admitem rancorosamente que pior do que as dores do parto foi a tristeza que as acometeu ao saber que haviam dado à luz a uma menina.

 

Juganti Prasadi, 30, recorda-se do silêncio reprovador que tomou conta do quarto quando ela deu à luz a sua terceira filha. A sua sogra entregou-lhe a criança e disse-lhe secamente, "É uma menina, de novo", e foi embora.

 

"Não havia ninguém para me dar sequer um copo d'água", conta Prasad. "Ninguém se deu ao trabalho de olhar para mim ou de me alimentar porque a criança era do sexo feminino".

 

Enquanto estava deitada se recuperando, ela podia escutar os parentes na casa ao lado lamentando a calamidade. Algumas semanas depois, o marido expulsou Prasadi e as três filhas de casa.

 

Situado a cinco horas de viagem pelas mal conservadas estradas a partir de Lucknow, a capital do Estado nortista de Uttar Pradesh, o distrito de Shravasti é, segundo cálculos da UNICEF, o pior lugar do mundo para se nascer mulher.

 

Em grandes áreas do norte rural da Índia, longe do rápido desenvolvimento que está acabando com posturas tradicionais em relação às mulheres nas cidades, o boom econômico da Índia é virtualmente invisível e as perspectivas para as meninas continuam bastante limitadas.

 

Em novembro, a Índia ficou em 114° lugar em uma pesquisa abrangendo 128 nações sobre desigualdade entre os sexos, feita pelo Fórum Econômico Mundial, tendo apresentado baixos índices de igualdade em educação, saúde e economia. A UNICEF usou três parâmetros estatísticos - a idade com a qual as meninas se casaram, o índice de alfabetização feminina e a desigualdade entre o número de meninos e de meninas - para determinarem que não existe um lugar mais infeliz para uma menina nascer do que Shravasti.

 

Mas nada na aparência externa de Machrihwa, no norte de Shravasti, perto da fronteira com o Nepal, indica esse recorde triste. A fumaça de fogões a lenha sobe em espirais a partir dos telhados de palha, e as meninas sentam-se com as mães, peneirando arroz à entrada das suas choupanas de estuque, em meio àquela paz característica das vilas nas quais ninguém possui carros. Aqui as famílias ganham a vida com a agricultura, sem contar com água corrente e eletricidade. "Estamos impressionados com o que está acontecendo nas grandes cidades, mas existem estas áreas rurais remotas nas quais o desenvolvimento ainda não chegou de maneira alguma", diz Rekha Bezboruah, diretor da Ekatra, uma organização de defesa dos direitos das mulheres, com sede em Nova Déli.

 

A sensação de ambivalência das mulheres daqui em relação às suas filhas está enraizada no tradicional sistema indiano de casamento, que determina, primeiro, que as moças deixem as casas dos pais permanentemente no dia do casamento, indo para a residência da família do marido, e, segundo, que elas sejam acompanhadas por dotes vultosos.

 

Reservadamente, as mulheres da vila explicam que o ressentimento das mães em relação às suas filhas recém-nascidas é o resultado de um difícil cálculo financeiro.

 

"O mínimo é 25 mil rupias por dote, que inclui o preço de uma bicicleta que é dada ao noivo, bem como diversos ornamentos. E além disso há o próprio custo do casamento, que representa mais 20 mil rupias. Então, já na primeira vez que olha para a criança, tais pensamentos passam pela cabeça da mãe", explica Shanta Devi, 35, mãe de duas meninas e dois meninos.

 

O total de 45 mil rupias, o equivalente a US$ 1.500, é uma fortuna para trabalhadores sem terra que ganham sem nenhuma regularidade salários de cerca de 30 rupias por dia. "A pessoa gosta de ter uma filha, mas gosta também de ter dinheiro", acrescenta ela.

 

A prática de dar e receber dotes é ilegal segundo a Constituição do país. Mas sucessivos governos daqui tiveram pouco sucesso em implementar a lei.

 

"Para nós o dote é o problema social básico", afirmou em uma entrevista Renuka Chowdhury, ministra do Desenvolvimento para Mulheres e Crianças. "No momento em que tem uma filha, a mulher sente que prejudicou a família".

 

Até mesmo nas cidades a preferência por filhos continua forte. Uma nova cultura de consumo ostentoso inflacionou os valores dos dotes, reduzindo ainda mais o entusiasmo pelas filhas entre as famílias de classe média.

 

Nas áreas urbanas, o preconceito tradicional assumiu uma forma moderna eficiente, com a chegada da tecnologia de ultra-som que permite que as mulheres evitem ter bebês do sexo feminino. A identificação do sexo da criança antes do nascimento é ilegal, sendo entretanto uma prática generalizada. Em toda a Índia, cerca de dez milhões de fetos do sexo feminino foram abortados nos últimos 20 anos, segundo um estudo publicado no ano passado no periódico britânico de medicina "Lancet". "Encontramos fetos de meninas em sacos, flutuando em canais de esgoto", conta Chowdhury.

 

Em áreas rurais remotas, uma máquina capaz de determinar o sexo da criança antes do nascimento é um luxo do qual ninguém ouviu falar. Apesar da relutância das mulheres em dar à luz a meninas, a proporção entre o número de meninas e o de meninos neste distrito é mais elevado do que em áreas mais prósperas da Índia: 941 meninas para cada mil meninos no parto, número superior à média nacional de 927. Aqui, o alto índice de analfabetismo e a baixa idade para o casamento são os fatores que fazem com que Shravasti seja o pior local do país para as meninas, segundo as classificações da UNICEF, baseadas em dados dos censos de 2001.(...)

 

(Disponível em http://www.iht.com/pages/index.php, acesso à tradução feita pela UOL em 01/12/2007)

 

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