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O obscurantismo do século 21

 

1 O obscurantismo do século 21 é um fenômeno global. Para alguns arautos da irracionalidade, aliás, a palavra 2 “global” nem faz sentido. É o caso dos terraplanistas, que seguem colecionando adeptos. Em outubro 3 de 2018, um grupo de “pesquisadores” terraplanistas foi recebido por deputados estaduais na Assembleia 4 Legislativa do Mato Grosso do Sul, onde ganharam uma homenagem por seus “estudos” sobre a forma do 5 nosso planeta. O terraplanismo é folclórico. Rende risadas. Mas o fato de sandices como essa ganharem 6 popularidade não tem a menor graça. Primeiro, porque se trata de um sintoma de que parte significativa 7 da população viva hoje desconhece fatos objetivos sobre o mundo – como a Lei da Gravitação, que os 8 terraplanistas dizem ser uma farsa. Segundo, porque estamos descobrindo que quase ninguém sabe dis9 tinguir fatos de opiniões – não se pode ter uma “opinião” sobre o formato da Terra ou sobre a existência da 10 gravidade. Isso pertence ao reino dos fatos.

11 Uma pesquisa do Pew Research Center, feita em 2018, entrevistou 5.035 americanos adultos, que tinham 12 que ler dez frases simples e apontar se eram afirmações factuais ou opiniões. Apenas 26% foram capazes 13 de apontar corretamente as cinco factuais e só 35% conseguiram identificar corretamente as cinco que 14 eram opinativas.

15 Desconectar opiniões dos fatos objetivos é um problema grave. A Terra plana é entretenimento, mas e o 16 movimento antivacinas? A Europa viu um aumento de 400% no número de casos de sarampo em um ano 17 – de 5.273 em 2016 para 21.315 em 2017. E mesmo quando defensores do movimento antivacinas são 18 confrontados com esses números, e com a explicação de que não há evidência de que elas possam causar 19 os males que se atribuem a elas, ainda assim argumentam sobre a “malévola indústria farmacêutica”. E, 20 em último caso, parte-se para um “mas essa é a minha opinião”. Eita.

21 Antes que a ciência entrasse no nosso cotidiano, sem vacinas e antibióticos, a mortalidade infantil era 22 altíssima. Durante o século 19, 30% das crianças nascidas morriam antes de completar cinco anos. Na 23 Alemanha, chegava a 50%.

24 Então, a ciência entrou em cena, com três contribuições essenciais: o saneamento básico, o desenvolvi25 mento dos antibióticos e a criação das vacinas. O ser humano passou milhares de anos tentando proteger 26 sua prole com rezas, chás e superstições de todo tipo, mas o que deu certo foi entender como as doenças 27 funcionam e combatê-las com armas eficazes. 28 Em 2015, a mortalidade infantil era, em termos globais, de 4,3%. No Brasil, no mesmo ano, era só de 1,7%. 29 Na Suécia, dado de 2014, 0,3%.

30 Outro tema adorado pela turma do “mas essa é a minha opinião” é a mudança climática. Pouco importa 31 que a NASA apresente fartas evidências do aquecimento global. Pouco importa que os registros de tempe32 raturas, feitos com termômetros (pouco afeitos a ideologias), apontem que a temperatura média do planeta 33 já subiu 0,9C entre 1880 e 2017. Pouco importa que 17 dos 18 anos mais quentes nos 138 anos de regis34 tros tenham acontecido depois de 2001, ou que 2016 tenha sido o ano mais quente de todos os registros. 35 O sujeito espera a primeira brisa gelada soprar para dizer “cadê o aquecimento global?”. É dramático, e se 36 trata de um problema que está ganhando proporções cada vez maiores. Não é mais algo só de WhatsApp. 37 Isso também está na fala do ministro das relações exteriores.

38 Só vamos desarmar essa arapuca se encontrarmos uma base comum de fatos objetivos com os quais 39 todo mundo possa concordar: a ciência. E não porque ela seja moralmente ou ideologicamente superior. 40 Mas porque ela se aceita como falível. Porque está fundamentada na dúvida, não na certeza. E a certeza 41 inabalável, imune aos fatos, é o caminho mais curto para o retrocesso.

 

(Adaptado de: NOGUEIRA, S. O obscurantismo do século 21. Superinteressante, São Paulo: Abril, ed. 398, 3 jan. 2019. Disponível em: https://super.abril.com.br/opiniao/o-obscurantismo-do-seculo-21/. Acesso em: 21 jun. 2019.)

 

O autor do texto utiliza-se de termos para desprestigiar os argumentos dos outros e valorizar seus próprios argumentos. Em relação aos termos sublinhados que valorizam os argumentos do autor, considere as afirmativas a seguir.

 

I. Não é mais algo de WhatsApp. Isso também está na fala do ministro das relações exteriores.

 

II. O sujeito espera a primeira brisa gelada soprar para dizer “cadê o aquecimento global?”.

 

III. Pouco importa que a Nasa apresente fartas evidências do aquecimento global.

 

IV. Pouco importa que os registros de temperaturas, feitos com termômetros (pouco afeitos a ideologias), apontem que a temperatura média do planeta subiu 0,9C entre 1880 e 2017.

 

Assinale a alternativa correta.



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