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Só ao anoitecer Gregor acordou de um sono pesado, parecido com um desmaio. Por certo, não teria acordado muito mais tarde, mesmo que ninguém o perturbasse, pois se sentia suficientemente descansado e refeito; no entanto, tinha a impressão de que um passo furtivo e o ruído da porta do corredor sendo fechada com cuidado o haviam despertado. Aqui e ali, a luz dos postes elétricos da rua projetava pálidas manchas no teto e no alto dos móveis, mas embaixo, onde ele se achava, reinava a escuridão. Tateando desajeitadamente com as antenas que só agora ia aprendendo a valorizar, arrastou-se até a porta para ver o que havia acontecido por ali. Seu lado esquerdo parecia uma única longa cicatriz que lhe dava desagradáveis repuxões e o fazia coxear com suas duas fileiras de patas. De resto, uma patinha ficou gravemente ferida durante os incidentes da manhã — era quase um milagre que só uma tivesse se machucado — e se deixava arrastar sem vida. Só ao se aproximar da porta foi que Gregor percebeu o que o atraíra afinal: o cheiro da comida. É que lá havia uma tigela cheia de leite açucarado em que nadavam pedacinhos de pão. Ele quase chorou de alegria, pois estava muito mais faminto do
que de manhã, e se apressou a mergulhar a cabeça quase até os olhos. Mas logo a retirou, desiludido; não só porque comer lhe era difícil por causa do flanco esquerdo — não conseguia fazê-lo sem a cooperação do corpo ofegante — como porque, ainda por cima, já não gostava de leite, até então sua bebida preferida, com certeza o motivo pelo qual a irmã o havia deixado ali para ele, e foi quase com repugnância que se afastou da tigela e voltou capengando para o centro do quarto.
Franz Kafka. A metamorfose. Luiz A. de Araújo (Trad.). Barueri: Princípios, 2018.
A respeito dos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item que se segue.
O emprego de acento agudo nas palavras “elétricos”, “pálidas” e “móveis” justifica-se pela mesma regra de acentuação gráfica.